Nos próximos cinco anos, Automação e o Futuro do Emprego no Brasil ficara marcada com a divisão de trabalho entre máquinas e humanos e deverá se equilibrar globalmente. Essa é a principal conclusão do relatório “Futuro do Emprego 2020”, publicado pelo Fórum Econômico Mundial. A pesquisa destaca como a pandemia da COVID-19 acelerou a adoção de tecnologias, transformando rapidamente o cenário laboral.
Segundo o levantamento, das 300 empresas analisadas, que juntas empregam mais de 8 milhões de pessoas ao redor do mundo, 43% planejam aumentar a automação e, consequentemente, reduzir sua força de trabalho. Além disso, 41% pretendem expandir a contratação de trabalhadores especializados, enquanto 34% preveem aumentar o quadro de funcionários em virtude da integração tecnológica.
Impactos da Automação: Extinção de 85 Milhões de Empregos
O relatório alerta que a automação, aliada à nova divisão de tarefas entre humanos e máquinas, poderá resultar na extinção de 85 milhões de empregos em todo o mundo, afetando empresas de médio e grande porte em 15 setores diferentes e em 26 economias, incluindo o Brasil.
No cenário brasileiro, as áreas mais suscetíveis à redução de empregos incluem contabilidade, processamento de dados, atendimento ao cliente, caixas e funcionários bancários, secretariado administrativo, e trabalhadores de linhas de montagem.
A Desigualdade Crescente e o Papel da Automação
De acordo com o economista Bruno Ottoni, da consultoria IDados, a automação já está exacerbando a desigualdade no mercado de trabalho brasileiro, que contabilizou 14,1 milhões de desempregados ao final do terceiro trimestre de 2020, segundo o IBGE.
Ottoni observa que a automação tende a aumentar a desigualdade ao longo do tempo, principalmente porque as máquinas estão substituindo funções de nível intermediário na distribuição salarial. Trabalhadores menos qualificados, cujas funções ainda não podem ser desempenhadas por máquinas, são relativamente menos afetados, enquanto aqueles com maior qualificação e funções criativas mantêm certa segurança em seus empregos.
Transformações na Distribuição Salarial
Os empregos intermediários, muitas vezes ocupados por trabalhadores que executam tarefas repetitivas e passíveis de automação, estão sendo progressivamente substituídos por máquinas. Motoristas, por exemplo, correm o risco de serem substituídos por veículos autônomos nos próximos anos, especialmente em ambientes estruturados como estradas.
Ottoni destaca que, à medida que esses trabalhadores perdem seus empregos, muitos acabam aceitando posições inferiores, para as quais são sobrequalificados, o que amplifica ainda mais a desigualdade salarial. A automação, embora aumente a produtividade, impõe o risco de substituição em massa de trabalhadores por máquinas, resultando em um número reduzido de empregos.
A Necessidade de Requalificação
O Fórum Econômico Mundial também destaca a importância da requalificação dos trabalhadores, especialmente para aqueles que já estavam em situação de desvantagem antes da pandemia. O relatório estima que 50% dos trabalhadores precisarão de requalificação até 2025 para se manterem competitivos no mercado de trabalho.
Apesar das previsões pessimistas, há um lado positivo: a automação também cria novas oportunidades. Muitas empresas reconhecem a necessidade de requalificar seus funcionários e planejam realocar 46% deles para novas funções que surgirão.
Economia Verde e o Potencial de Geração de Empregos
Outro ponto importante do relatório é a previsão de criação de 97 milhões de novos empregos até 2025, superando as perdas causadas pela automação. Dentre as áreas que mais devem gerar oportunidades, destacam-se os “empregos do amanhã”, com ênfase na economia verde, big data e novas funções em engenharia.
No Brasil, a transição para uma economia de baixo carbono pode impulsionar a criação de empregos e aumentar o PIB. Práticas sustentáveis podem resultar em um crescimento significativo do PIB, com um ganho acumulado de R$ 2,8 trilhões entre 2020 e 2030. Segundo o estudo “Uma Nova Economia para uma Nova Era”, a adoção de um modelo econômico verde pode levar à criação de mais de 2 milhões de empregos líquidos até 2030.
Sustentabilidade como Vantagem Competitiva
Empresas brasileiras estão cada vez mais engajadas na agenda verde, especialmente aquelas que lidam com investidores internacionais. A sustentabilidade, além de beneficiar a sociedade, também pode trazer vantagens econômicas significativas, como a capacidade de atrair e reter talentos e fornecedores de qualidade.
Automação e o Futuro do Emprego no Brasil
A automação, segundo Ottoni, é uma ferramenta crucial para aumentar a produtividade no Brasil, mas sua adoção pode ser retardada por fatores econômicos e políticos. Com o custo do trabalho relativamente baixo, muitas empresas optam por manter trabalhadores em vez de investir em máquinas.
Além disso, setores com pouca competição tendem a ter menor incentivo para aumentar a competitividade através da automação. No entanto, empregos que exigem originalidade, criatividade e habilidades socioemocionais têm menos probabilidade de serem substituídos por máquinas.
O futuro do emprego no Brasil, moldado pela automação e pela economia verde, apresenta desafios e oportunidades. Enquanto a automação pode extinguir milhões de empregos, ela também cria novas vagas e impulsiona a necessidade de requalificação. A transição para uma economia sustentável oferece potencial para crescimento econômico e criação de empregos, desde que o país consiga se adaptar às novas demandas do mercado de trabalho.