Estudo revela que terremotos podem interromper o ciclo menstrual. Mulheres que viveram em regiões afetadas por terremotos na Turquia apresentaram alterações significativas em seus ciclos menstruais, de acordo com uma pesquisa recente. Esses dados indicam que o trauma provocado por desastres naturais pode ter impactos profundos não apenas na saúde mental, mas também no equilíbrio hormonal e, consequentemente, na saúde reprodutiva.
O ciclo menstrual é um processo regulado por flutuações hormonais que ocorre mensalmente na maioria das mulheres em idade fértil. Ele é composto por duas fases principais: uma, em que há o sangramento, e outra, que marca a liberação de um óvulo no meio do ciclo. O ciclo regular é geralmente um sinal de que o corpo da mulher está funcionando adequadamente, e qualquer irregularidade pode ser um indicativo de problemas de saúde.
Irregularidades no ciclo menstrual podem manifestar-se de diferentes formas: menstruação mais frequente ou mais espaçada, sangramentos intensos ou muito leves, dores fortes ou até mesmo a ausência de menstruação. Essas alterações podem afetar significativamente a qualidade de vida da mulher, além de causarem problemas de fertilidade em casos mais severos.
A autora principal do estudo, Sibel Kiyak, da Universidade Necmettin Erbakan, na Turquia, destacou a relação entre o estresse pós-traumático e os distúrbios hormonais. Segundo ela, eventos traumáticos como os terremotos podem desestabilizar o corpo não apenas de forma física, mas também hormonal e psicologicamente. Isso afeta diretamente a saúde reprodutiva das mulheres. A pesquisa observou que as irregularidades menstruais se tornaram mais frequentes entre as mulheres que viveram dois grandes terremotos na Turquia.
O estudo contou com a participação de 309 mulheres, com idades entre 18 e 49 anos, que viviam nas 11 regiões da Turquia declaradas como áreas de desastre após os terremotos ocorridos em 6 de fevereiro de 2023. Estes terremotos, que atingiram 7,8 na escala Richter, resultaram em mais de 50.000 mortes e aproximadamente 110.000 feridos. Além disso, cerca de 38.000 prédios foram destruídos, causando um impacto devastador na vida das pessoas que residiam nessas áreas.
Cerca de nove meses após o desastre, essas mulheres responderam a um questionário online, relatando os impactos físicos e mentais que o evento teve em suas vidas. Os resultados mostraram um aumento significativo nas irregularidades menstruais após os terremotos. Antes dos tremores, 14,3% das mulheres relataram ciclos irregulares, número que subiu para 44,8% após o desastre. Entre essas irregularidades, destacam-se ciclos menstruais menos frequentes (14,6%), sangramentos intensos (12,3%), menstruações mais frequentes (10,7%) e sangramentos entre os ciclos (10,7%).
Além disso, 1% das participantes do estudo relataram que sua menstruação parou completamente, o que pode ser um indicativo de infertilidade temporária. Os pesquisadores encontraram uma forte correlação entre essas irregularidades menstruais e o trauma sofrido pelas mulheres. Aproximadamente 22,7% delas foram diagnosticadas com Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), uma condição psiquiátrica que pode ser desencadeada por eventos traumáticos, como desastres naturais. O TEPT pode provocar sintomas como medo extremo, ataques de pânico, sensação de desamparo, flashbacks do evento traumático e comportamento de evasão.
As mulheres que apresentaram mais sintomas de TEPT ou que vivenciaram traumas mais intensos foram as que mais relataram irregularidades em seus ciclos menstruais. Além do trauma psicológico, outros fatores também foram associados ao aumento das irregularidades, como doenças crônicas (obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardíacas, artrite e anemia). Mulheres com essas condições tinham o dobro de chance de apresentar ciclos irregulares. O estudo também apontou que mulheres fumantes ou que faziam uso de anticoncepcionais hormonais apresentaram maior probabilidade de ter alterações no ciclo menstrual. Cerca de 16% das mulheres do estudo utilizavam métodos contraceptivos hormonais, o que também pode ter influenciado seus ciclos.
Entretanto, é importante considerar as limitações do estudo. Por exemplo, ele não incluiu mulheres que estavam grávidas, que haviam dado à luz recentemente ou que estavam amamentando, nem mulheres em menopausa ou com condições de saúde que afetassem diretamente sua saúde reprodutiva, como síndrome dos ovários policísticos e endometriose. Além disso, como o estudo foi realizado com base em autorrelatos, os dados são subjetivos e não podem comprovar definitivamente uma relação causal entre os terremotos e as irregularidades menstruais. Outro ponto é que o grupo de estudo era composto por mulheres alfabetizadas e com acesso à internet, o que pode não representar a realidade de todas as mulheres afetadas pelo desastre.
Apesar dessas limitações, os resultados apontam para uma associação significativa entre o trauma causado pelos terremotos e as irregularidades nos ciclos menstruais. Os autores sugerem que o trauma tenha afetado os hormônios das mulheres, influenciando diretamente sua saúde reprodutiva. Essa pesquisa é um passo importante para entender como eventos traumáticos de grande magnitude, como terremotos, podem afetar a saúde das mulheres de maneiras mais amplas do que se poderia imaginar.
O estudo também destaca a importância de incluir a saúde reprodutiva nas estratégias de recuperação pós-desastre. Ao compreender melhor os impactos desses eventos na saúde das mulheres, é possível desenvolver intervenções mais eficazes que levem em conta os efeitos psicológicos e físicos, garantindo um cuidado mais abrangente em situações de calamidade.
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