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Resistência a antibióticos pode matar muitos diz estudo

Resistência a antibióticos pode matar muitos, e representa uma das maiores ameaças à saúde global. Um estudo recente publicado na prestigiada revista científica The Lancet estimou que mais de 39 milhões de mortes causadas por infecções resistentes a antibióticos podem ocorrer até o ano de 2050, caso medidas eficazes não sejam implementadas. Esta análise, realizada pelo Projeto Global Research on Antimicrobial Resistance (GRAM), marca a primeira investigação abrangente sobre os impactos da resistência antimicrobiana na saúde pública mundial.

Os autores do estudo, liderados por Mohsen Naghavi, do Institute of Health Metrics (IHME) da Universidade de Washington, destacam que a resistência a antimicrobianos tem sido uma preocupação global significativa por décadas. A análise foi baseada em um conjunto de 520 milhões de registros, abrangendo dados hospitalares, registros de óbitos e informações sobre o uso de antibióticos, e produziu estimativas para 22 patógenos e 84 combinações de patógenos e medicamentos, bem como 11 síndromes infecciosas.

A resistência antimicrobiana ocorre quando microrganismos como bactérias, vírus, fungos e parasitas não respondem mais aos tratamentos convencionais. Isso torna as infecções mais difíceis de tratar, aumenta a gravidade das doenças e pode levar a um aumento da mortalidade. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que o uso inadequado e excessivo de antibióticos é uma das principais causas desse fenômeno.

Até o momento, não havia sido realizada uma análise abrangente das tendências históricas de resistência antimicrobiana, e o estudo mais recente é pioneiro ao abordar esse aspecto. Um estudo anterior, de 2022, já havia demonstrado que as mortes globais atribuídas a bactérias resistentes superaram as mortes por HIV/Aids ou malária, resultando em 1,2 milhão de óbitos diretos e contribuindo para outros 4,95 milhões de mortes.

Tendências Globais e Alterações nas Taxas de Mortalidade

A análise mostra que, entre 1990 e 2021, mais de um milhão de vidas foram perdidas anualmente devido à resistência antimicrobiana. Em 1990, as mortes diretas causadas por essa resistência somavam 1,06 milhão, enquanto, em 2021, esse número chegou a 1,14 milhão. O estudo aponta que, apesar da diminuição das mortes diretas em 2021 em comparação a 2019, isso se deveu em parte a intervenções de saúde pública durante a pandemia de Covid-19, que impactaram a disseminação de infecções respiratórias.

As tendências de mortalidade por resistência antimicrobiana variam conforme a faixa etária. As crianças menores de cinco anos apresentaram uma redução significativa nas taxas de mortalidade, com uma diminuição de 59,8% nas mortes diretas, passando de 488 mil para 193 mil. Isso é atribuído a melhorias nas práticas de vacinação e controle de infecções. Em contraste, a mortalidade entre adultos com 70 anos ou mais aumentou dramaticamente, refletindo o envelhecimento da população e a vulnerabilidade maior dos idosos a infecções.

As regiões mais afetadas pela resistência antimicrobiana incluem a África Subsaariana Ocidental, América Latina Tropical, América do Norte de alta renda, Sudeste Asiático e sul da Ásia, onde as mortes anuais aumentaram em mais de 10 mil durante o período analisado. Os patógenos mais preocupantes, classificados pela OMS, incluem bactérias como o Staphylococcus aureus resistente à meticilina, cuja mortalidade global saltou de 57.200 em 1990 para 130.000 em 2021.

Projeções Futuras

O estudo também apresenta projeções sombrias para o futuro, indicando que as mortes relacionadas à resistência antimicrobiana devem aumentar consideravelmente nas próximas décadas. Até 2050, estima-se que 1,91 milhão de mortes anuais serão diretamente atribuídas à RAM, representando um aumento de 67,5% em relação aos 1,14 milhões registrados em 2021. Além disso, a resistência antimicrobiana poderá estar relacionada a 8,22 milhões de mortes indiretas, o que representa um aumento de 74,5% em relação aos 4,71 milhões de mortes associadas em 2021.

Embora as crianças menores de cinco anos continuem a mostrar redução nas mortes por resistência antimicrobiana, as faixas etárias mais avançadas, especialmente a população acima dos 70 anos, enfrentam um aumento alarmante nas mortes. Estima-se que, até 2050, a mortalidade nessa faixa etária possa subir em 146%, atingindo um total de 1,26 milhão de óbitos.

As áreas mais afetadas pelas mortes diretas atribuídas à resistência antimicrobiana incluem o Sul da Ásia, onde se prevê um total de 11,8 milhões de mortes entre 2025 e 2050, com outros aumentos significativos esperados em regiões do sudeste asiático e da África Subsaariana.

Estratégias de Intervenção

O estudo sugere que intervenções eficazes podem salvar milhões de vidas. Melhorias no tratamento de infecções e no acesso a antibióticos podem evitar até 92 milhões de mortes entre 2025 e 2050, com os maiores benefícios concentrados no sul da Ásia, África Subsaariana e partes do sudeste asiático. Além disso, o desenvolvimento de novos antibióticos direcionados a bactérias gram-negativas pode potencialmente prevenir 11,08 milhões de mortes atribuídas à resistência antimicrobiana.

Os especialistas alertam que, embora tenha havido progresso em algumas áreas, especialmente entre crianças pequenas, é necessário intensificar os esforços para proteger a população dessa ameaça crescente. As previsões apontam que, até 2050, as infecções resistentes poderão estar associadas a cerca de 8 milhões de mortes anuais, seja como causa direta ou contribuinte.

Portanto, para enfrentar essa crise, é essencial implementar novas estratégias que incluam o desenvolvimento de vacinas, a introdução de novos medicamentos, a melhoria da assistência médica e um acesso mais rigoroso ao uso de antibióticos existentes. A conscientização pública e a educação sobre a resistência antimicrobiana também são cruciais para reduzir o uso inadequado de antibióticos e, assim, mitigar a ameaça que essa condição representa para a saúde global.

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